Querido Sobrinho,
desculpa não te chamar pela tua verdadeira inicial neste postal mas a culpa é dos teus pais que ainda não te nomearam. Eu até percebo, é uma grande coisa, oferecer um nome.
Mas, deixa lá, já cá estás e bem, e eu aqui, longe, morta por te ver.
Se aí estivesse seria sem dúvida esta a história que hoje contaria aos teus irmãos, agora que a tua mãe já te conseguiu convencer a sair.
Assim, vou ter de esperar que o teu pai se lembre dela quando não os conseguir sossegar à noite com a excitação de mais um habitante em casa.
Eu sei que vou precisar de muita leitura esta noite.
Até já.
Tia S (como não tenho cá o livro roubei daqui as fotografias porque sei que não se importam; há outras aqui)
............................................................................ Quando eu nasci
Planeta Tangerina, 2007 texto Isabel Minhós Martins ilustrações Madalena Matoso
isbn 9789729941085
encontrado aqui
para o Vasco
para o Jaime
para o Baltazar
para o Tomás
para a Marta
para a Branca
para o Nicolau
para o Xavier
para para o Manel
para o Luís
para a Sónia
e para a Margarida
Calha mesmo bem que o Natal chegue antes do Ano Novo que, como todos sabem, é a altura das grandes decisões na nossa vida.
O Natal é tempo de reflexão seja ela mais ou menos espiritual.
Ao preparar-nos para este Nacimento,
revemos o que somos e o que fazemos e o que afinal queremos de facto ser e fazer.
Seja o que for aquilo em que se acredita,
Natal é sempre nascimento e nascimento é sempre
(ou deveria ser) começo,
esperança,
família,
alegria,
amor.
E é por isso que deixamos hoje, aqui nesta prateleira, estes votos a todos os que aqui a vêm espreitar:
Feliz Natal.
............................................................................ O bebé
Sá da Costa Editora, 2008 texto Fran Manushkin, ilustrações Ronald Himler
isbn 9789725623633 oferecido!
Um outro ilustrador de que gosto muitíssimo é o belga Quentin Gréban.
Tem vários livros mas o nosso preferido é sem dúvida este.
As suas ilustrações são duma imensa suavidade (suave: novo adjectivo)
e a grafite dos esquissos que deixa à mostra por baixo das aguarelas (suponho) agrada-me mesmo.
Em alguns desenhos ela serve para sublinhar, noutros para dar movimento mas suspeito que, na maioria dos casos, seja apenas (e não chega?) o puro gosto pelo desenho enquanto mecanismo de procura, enquanto pensamento.
Por estar explícito, o desenho puxa-nos para um mundo artificial feito de imagens construídas enquanto que, ao mesmo tempo, consegue que essas mesmas imagens se tornem menos artificiosas, com mais realidade, com mais vida.
O conto é maravilhoso, nem sequer é um conto: numa sucessão de perguntas-respostas, alguém (uma menina) pergunta a alguém
(o pai— por favor escritores e tradutores: acabem com estes papás e mamãs. Pode ser mania minha mas com palavras como Pai e Mãe quem é que pensa em usar estes irritantes sucedâneos? Se noutras línguas ou sotaques o que não faz sentido é o contrário — lembro-me do espanhol e do brasileiro, por exemplo- aos portugais deixem-nos com os velhos, salvo seja, e lindíssimos Pai e Mãe)
porque é que alguns animais não fazem determinadas coisas.
E como grande pai que é, tem sempre resposta para tudo. Como este avô, também o pai está distraído a ler o jornal e falha a última resposta.
As perguntas-repostas são divertidíssimas,
dum finíssimo
ou enternecedor
humor.
Por aqui ainda andamos a tentar decifrar as perguntas que ficam no ar nas páginas que não são páginas nem capa (alguém que saiba me ensina o termo técnico, por favor?) onde só aparecem as ilustrações sem pergunta nem resposta.
Já arranjámos resposta para porque é que a girafa não usa gravata
para porque é que a avestruz não joga golf, para porque é que o polvo não luta boxe e para porque é que as corujas não usam chapéu.
Precisamos de ajuda para porque é que os jacarés não usam óculos, para porque é que os tubarões não andam de mota e para porque é que os porcos não se atiram de pára-quedas: terão medo de cair numa pocilga??
.................................................................................................... Papá, diz-me porque não andam as zebras de patins?
Edições Nova Gaia, 2006
Quentin Gréban
isbn 9789727124664
oferecido!
Este andava a namorá-lo há algum tempo.
É uma das histórias favoritas do mais novo que oscila entre profundo medo e fascínio pelo lôgomau.
É uma história que costumamos ler no campo e por isso é uma história de férias. Mas cá na cidade não tínhamos nenhuma versão deste conto tradicional (ainda hei-de procurar a versão da minha infância).
Um dia destes fui contá-lo à sala da escola dele e, melhor do que ver a sua cara enquanto leio a história,
só ver também a cara dos seus mini-amigos embasbacados à espera da dentada feroz do malvado lobo ou da explicação do que é uma linha e uma agulha(!?).
Por vezes fico baralhada nalguns livros infantis pelo uso do bold ou da diferenciação de tamanhos de letra: parece-me indiscriminado e gratuito. Com este livro nem é preciso ser um exímio contador de histórias para ler muito bem à primeira.
As ilustrações não me fascinaram só a mim. Também, não é para menos.
Porque além de terem aquelas características que aqui repito com frequência — lindíssimas e delicadas —, a uma segunda vista são profundamente desconcertantes e até terríveis.
Ora vejam:
1. o lobo é apresentado como um delicado e sensível pintor retratando a cena bucólica que é afinal o retrato da tragédia que se avizinha.
2. enquanto o lobo come os ovos que lhe adoçarão a voz, penas esvoaçam em seu redor.
3. a voz agora doce do lobo é uma delicada senhora com um longuíssimo pescoço; será uma corda vocal?
(pelo menos foi assim que encontrámos uma explicação aproveitando o facto de na expressão dramática aquecerem as cordas vocais.)
4. se o lobo está com uma pata dentro do saco da farinha e a outra a segurar o pacote, de quem é a enigmática luva branca ali pousada?
5. porque é que os cabritinhos se encavalitam uns nos outros para olharem a pata que está rente ao chão?
6. quando o lobo come os cabritinhos, um a um, estes estão dentro de gavetas (dentro da sua barriga?) como mini-caixões, adormecidos.
7. o ar eficiente com que a mãe cabra corta e cose com a sua máscara de cirurgião, faz pensar que abre e fecha barrigas a toda a hora.
8. quem é este segundo lobo ainda deitado? Será apenas uma imagem do movimento do levantar ou será algo mais transcendental?
9. o modo como o mais novo segue ao colo enquanto o mais velho luta para se manter pendurado na perna veloz da mãe que olha em frente.
10. as duas mãos-patas ligadas pela linha fina e esvoaçante são mesmo iguais em tudo menos na cor: não é mesmo assustador?
Só tenho dois filhos mas não consigo sair de casa tão bem arranjada quanto esta impecável mãe-de-sete-filhos-cabra.
Que estilo.
................................................................................ O sete cabritinhos
OQO Editora, 2009 texto Tareixa Alonso, ilustrações Teresa Lima
isbn 978849871130-1
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